Semiótica
da Pandemia III
O
grande circo das “mudanças” e das “pressas”.
“Quizá
no sea mucho lo que pueda hacerse con unas líneas de protesta y denuncia pero
mucho se hace no permitiendo que gane el silencio.”
Por
Fernando Buen Abad Domínguez
Hábitos,
costumes e tradições (tão aparentemente intocáveis em tempos de “normalidade”)
foram “descarrilados” pela força descomunal da crise sanitária, até hoje a
maior da história, provocada pelo capitalismo. Casamentos, aniversários,
batizados, exéquias… ritos, procissões ou heranças, qual a maior, foram
suspensas, modificadas ou adiadas sob os desígnios do Covid-19 e toda a
parafernália desencadeada pela irracionalidade do capitalismo e seus “mass
media”.
Aqueles
que, abraçados aos seus dogmas, juraram nunca faltar aos ritos de sua eleição,
ficaram sem missa e sem homilia. Todas as rotinas foram alteradas. “Mudou”,
provisoriamente, a catarata dos estereótipos matinais executados (às vezes com
orgulho) por pais e filhos ao iniciar o dia apressados em direção ao trabalho
ou à escola. “Mudou”, em aparência, o ritual da higiene e vestuário, o penteado,
o perfume e a saudação, “Mudou”, momentaneamente, o “ritmo” da rua, o
transporte e a sobrevivência entre enxames de carros, comboios e motocicletas.
“Mudou” a poluição atmosférica e sonora. Assim será por algum tempo. Tudo mudou
para que nada mude?
Onde
houve quarentena, obrigatória ou voluntária, houve “mudanças” para gostos e
desgostos. Toda a estrutura cultural burguesa sofreu um enorme choque. A
monstruosa rotina, fabricada para padronizar a exploração da mão-de-obra, com
sua matilha de enganos e lavagens de cérebro cotidianos, foi sensivelmente
fissurada. Ficou à vista o grotesco descarnado do capitalismo e os poucos
proprietários usurários. (Como no “Feiticeiro de Oz”). Isso explica a “infodemia”
desatada para remendar as fissuras do sistema e impedir a visibilidade do
sujeito social transformador, para que não se veja o desastre contra si mesmo e
do qual ele é cúmplice involuntário. Que não se note o desperdício que continua
parecendo progresso, daí a pressa em “voltar à normalidade”.
Tudo
enunciado como invencível tremeu abalado pelo “vírus” (de origem acidental ou
experimental; algum dia se saberá?). Tudo o que nos venderam como inamovível se
desmoronou pela quantidade de infetados e falecidos - o sólido dissolve-se. As “grandes
verdades” do establishment tornaram-se
baboseiras de tecnocratas que, onde juravam que havia “carência de recursos”,
apareceram magicamente como carradas de assistencialismo - o Estado assume o estatuto
subsidiário de emergência, antes que se lhe escape das mãos o “controlo” social
e se esfume o “estado de direito” burguês. Só o medo ao contágio conteve as
massas. Tudo o mais foi exposto. E um vendaval “renovado” de falácias foi
desencadeado.
Se,
como se costuma dizer, “a verdade nos libertará”... compreende-se por que é ela
perseguida, desfigurada e prostituída tão febrilmente nas masmorras ideológicas
das oligarquias. As táticas e estratégias das falácias mediáticas foram
aperfeiçoadas e são produzidas em série nos mais disfarçados laboratórios de
guerra psicológica. Alguns chamam-se “noticiários”. E mentem-nos de amanhã à
tarde e à noite, sob o abrigo, inclusive, de empresas e governos de países “democráticos”.
Há que pôr ponto final nisto.
1.
Falta à verdade o jornalismo que se deleita nas consequências e não explica as
causas.
2.
Falta à verdade o jornalismo que sobrepõe a sua opinião à evolução dos factos.
3.
Falta à verdade o jornalismo que alinha com as agendas dos poderosos contra os
fracos.
4.
Falta à verdade o jornalismo que sustenta calúnias para granjear dinheiro e/ou
simpatias.
5.
Falta à verdade o jornalismo empenhado em lisonjear os interesses de cúpula e
ignorar os testemunhos dos povos.
6.
Falta à verdade o jornalismo que se rende à “devida obediência” ante injustiças
editoriais.
7.
Falta à verdade o jornalismo que coloca o capital acima dos seres humanos.
8.
Falta à verdade o jornalismo que não é solidário com as lutas emancipadoras dos
povos.
9.
Falta à verdade o jornalismo que não denuncia os interesses de saqueio aos
recursos naturais dos povos.
10.
Falta à verdade o jornalismo que é indiferente à exploração dos trabalhadores
em todo o mundo.
Estamos infestados com enxurradas de
afirmações imprecisas, de credibilidade paupérrima, próximas da calúnia,
referentes à situação atual do mundo e à pandemia. A verdade está submetida a
um bloqueio económico demencial, a sanções ideológicas imperiais e uma algazarra
demagógicas em defesa da “liberdade de expressão” burguesa. Nos noticiários de
todo o tipo, fabricam-se infâmias descomunais que fazem inveja às piores
calúnias de Miami. Nenhum rigor informativo, sondagens adquiridas em fontes de
direita e um “tonzinho” de superioridade que parece ter esquecido a situação de
emergência a que está sendo submetida a humanidade por culpa do capitalismo.
Alguém duvida?
Esse
“jornalismo de guerra” também “pandémico” deve ser repudiado. O clã dos
monopólios mundiais já se está preparando e tem no forno centenas de novas “Fake News”, e bem cedo as teremos
ao pequeno-almoço. É muito provável que aos diretores notícias lhes agrade a
usurpação e ingerência, seja do que for, desde que ajudem voluntariamente a
aprofundar a agressão imperial contra a espécie humana sem o mínimo de respeito
pela soberania dos povos e na intervenção na vida política de cada país, embora
o disfarcem como “notícias internacionais”.
Na
fase atual da pandemia (se alguém sabe qual é que avise), a “informação” copia
os formatos de uma imprensa que em nada faz jus às melhores tradições
jornalísticas. Pelo contrário avilta-as. Não sejamos cúmplices. Talvez não seja
muito o que se pode fazer com algumas linhas de protesto e denúncia, mas muito
se faz não permitindo que vença o silêncio, nem a impunidade. Não devemos
aceitar o despudor oligarca quando exibe falácias perigosas como se fossem
verdades preciosas. Somos os indicados para os denunciar, não esquecendo de
comentar e compartilhar, desterrando os vícios históricos e as deficiências nos
nossos modos e meios de produção informativa. Que o silêncio não nos conquiste.
Dr. Fernando Buen Abad
Domínguez
Director del Instituto
de Cultura y Comunicación
y Centro Sean MacBride
Universidad Nacional de
Lanús
Miembro de la Red en
Defensa de la Humanidad
Miembro de la
Internacional Progresista
Miembro de REDS (Red de
Estudios para el Desarrollo Social)